sábado, 3 de julho de 2010

Falho

Caio sobre o mesmo erro porque gosto de edificar minhas vontades sobre a falência. Reservo os entulhos das extintas edificações e penso na estética da ruína que levantarei com este corpo baldio. [Hoje é domingo de manhã].

Olho para o lado, um homem imaterial estendido na cama de concreto. Ele olha pra mim como se estivesse doente, agonizando pelas mesmas vontades minhas. Os olhos, tanto os meus quanto os dele, estão em pus.

Sei absolutamente que não há matéria que eu possa tocar, nem tão pouco tenho digital para marcá-lo. [Aquele homem sobre a cama de concreto é a minha única certeza]. Me utilizo das velhas imagens cinematográficas para despertar em mim algum desejo, porque hoje eu preciso me sentir humana.

[Toco levemente o imaginado]

Há uma mão direita acariciando meu seio. Há também uma boca. A barba escova meu corpo, retirando todos os resíduos dos desejos acumulados ao longo da guerra. A saliva lava minha pele mofada enquanto os longos dedos escorrem [ruídos quase imperceptíveis, não fossem os espaços entre os dentes].

Há uma mão esquerda sobre os meus pêlos ensaiando penetração. O dedo, todos os dedos e a palma da mão. [Ritmo] [Ritmo] [Ritmo]

Anuncio gozo, tentando superar a dor. A câimbra anuncia paralisia, contrariando o pedido das bocas.

[Falho]

Caio sobre o mesmo erro porque este corpo já não suporta ser abrigo de fantasmas, ou porque insisto solitariamente na certeza deste ato vazio.

[Abro os olhos para recompor as vontades]

3 comentários:

Carol Ornellas disse...

pra mim, aqui é novo. e já adorei!

Aline Dias disse...

gostei muito disso, Jamile.

Amile Riu disse...

Obrigada, meninas!