segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Reticências sem norte




O mar numa só tonalidade, o mar no seu absoluto: marinho. 

Da varanda, o céu roseia-se no horizonte. Nuvens dispersas finalizando o dia, vento ligeiro. O  tempo presente confundindo-se: memória. É como se os gestos ainda estivessem aqui, a delicadeza dos cílios, dos lábios, dos pequenos afetos cotidianos. A certeza de viver o paraíso e o desespero porvir:  desabitá-lo.  

O piso de madeira corroído pela maresia continua o mesmo, as formigas no pote de açucar, os gatos correndo pela casa. Mas a impressão é de que o ar tenha entristecido, não há quem o inspire tão  profundo quanto aqueles amantes de duas semanas atrás.

 Não há música pela casa, risadas, nem panelas no fogão.Quem ficou olha para os lados, compõe versos, hora ou outra desce ao mar. Aos poucos, percebe que este é o estado natural de sua própria vida – o bom dia aos pescadores, o velho caminho pro trabalho. O que aconteceu foi um lapso do destino, um feliz acaso. E, como todas as hitórias maravilhosas, terá reticências sem norte.

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